Tinha medo dos meus amigos, pois apanhava cascudo, rasteira, todos da mesma idade simplesmente porque tinha o corpo raquítico, tudo isso as nove anos de idade.
Por coincidência bem aqui na Quinta, bem no SIOGE. Década de 60 era um grande reduto da capoeira principalmente na São Pantaleão onde nasci.
Pois bem, um amigo que tinha recém chegado do Rio de Janeiro, Jessé Lobão, que treinou com Djalma Bandeira na década de 60, Babalú, um apaixonado pela capoeira, outro amigo que era marinheiro da marinha de Guerra, também aprendeu com o mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão. Também participaram Firmino Diniz e seu mestre Catumbi, preto alto descendente de escravo. Firmino foi ao Rio e aprendeu a capoeira com Navalha no estilo Palmilhada e com elástico, nos repassando.
Daí por volta de 62 e 63 esteve aqui em São Luís o Quarteto Aberrê com o mestre Canjiquinha e seus discípulos: Brasília, hoje Mestre Brasília, que mora em São Paulo; e o nosso querido Mestre Sapo; Vitor Careca. Quando Vitor Careca e seus amigos chegaram aqui em São Luís não foram bem sucedidos.
Por sorte do grupo, na Praça Deodoro, na apresentação, estava assistindo o Mestre Tacinho, que era marceneiro e trazia gaiola. Era campeão sul-americano de boxe no estilo médio ligeiro e gostava da capoeira. Vendo que o grupo tinha um total domínio da capoeira, apresentavam modalidades circenses, mas ligadas a capoeira, como navalha, faca, etc. Tacinho convidou-os para uma apresentação no Palácio do Governo, pois era motorista do Palácio. O Governador da época era Sarney, gostando muito da apresentação, convida um deles para ministrar aula de capoeira no Maranhão, pois não foi possível porque eram menor de idade.
Anos depois, Mestre Barnabé (Mestre Sapo), Anselmo Barnabé Rodrigues, volta ao Maranhão.
Por volta de 66 ou 67, está tendo uma roda de capoeira no Olho d´Água com o Mestre Sapo, coincidentemente estando na praia, entrei na roda, conheci o Mestre Sapo e nos tornamos amigos e comecei a estudar com eles. Através do Professor Dimas.
Como a capoeira era mal vista na época e cheia de preconceito, parti para a Ginástica Olímpica, volto para a capoeira e participo com o Mestre Sapo do 1º e 2º Troféu Brasil e fomos campeões, eu no peso pluma e Sapo no peso pesado. Me identifiquei pela capoeira e fui para Pernambuco, Bahia e São Paulo, estudar capoeira.
Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê.
Quando eu conheci Sapo, eu me defini no estilo Capoeiragem da Remanecença (sic), fundamentada. Eu vivo do fundamento de que, apesar de ser baixo, mas na capoeira se vive pela altura. Existem três alturas, três distâncias e três ritmos.
O termo capoeira vem do chapéu que os mercadores usavam para vender seus produtos, com abas longas, botavam sues produtos dentro do chapéu, e com berimbau na mão vinham a chamar a atenção.
Eu quero deixar uma ressalva na entrevista. A capoeira por ser um jogo de guerra, o golpe estratégico era o disfarce. O Capitão-Do-Mato, quando ia prender o negro que fugia das senzalas, e via o negro “gingar”, dizia: “Preto ta disfarçando de angola”, quando investia pegava um pontapé ou uma rasteira. O risco que tem pela perca (sic) dos fundamentos pelo grau de dificuldade de execução ou falta de conhecimento. Temos que ter forma de viver e formas e meios de sobreviver.
A capoeira saiu dos quilombos e hoje está nos shoppings. Digo, querem transformar a capoeira em jogo de competição que é um risco. A capoeira tem golpes perigosos que pode até matar. A facilidade que você aplica um golpe mortal é muito grande.
No século XIX, em Tutóia, Caxias, Pindaré e Codó se vê a capoeira com influência bahiana, só se vê na forma capoeiragem, no folclore, como o Boi da Ilha, por exemplo. O caboclo de pena, pela sua malicia, seu gingado e vadiagem em estilo defensivo da capoeira. O miolo do boi, que é a pessoa que fica debaixo do boi, pela forma de artimanha utilizando na coreografia de luta. No tambor de crioula, não só pelos componentes, mas pela primeira colocação antropóloga (sic) afinado a fogo, tocado a muque, e dançado a coice, que vem provar a chamada pernada.
Casei-me, aumentando o meu ensino voltado para academias, me separei indo ministrar no Bom Menino, voltando para a dança, também para o Lítero e depois para o [Colégio] Gladys Brenha e percebi que não tinha nada a ver com academias e fundei a primeira escola de capoeira do Maranhão, que foi a escola de capoeira do Laborarte. O último trabalho que realizei aberto ao público foi “Quem nunca viu, venha ver” e outros que me deram prêmios, como a gravação de um CD. Hoje tenho minha forma de ensinar, buscando sempre a forma indígena que tem na capoeira, pois estudei com os índios samangó – só o berimbau dos instrumento participa e tem uma só batida de marcação iúlna (sic) – a batida do berimbau é mudada e tem uma formação de entrada dos instrumentos. O Mestre chama, colocando ritmo e ordenando a entrada de cada instrumento – agogô, atabaque, berimbau contrabaixo, berimbau viola, berimbau violinha, reco-reco e pandeiro; entra também as palmas.
Santa Maria – uma batida que diferencia das outras duas é que tem duas batidas de marcação, sempre acompanha cm as palmas.
Marvana – com três palmas
Caudaria – com dois toques e três batidas
Samba de roda – neste ele explica que não precisa tocar bem, pois cabe a cada um o seu interesse pelo aperfeiçoamento.
Angola – é mais compassada e cheia de ginga.
Cabe ressaltar que a “iúna” é destinada a recepção de pessoas na roda e momentos fúnebres.
Ladainha – é uma louvação a Deus e as formas de vida e espírito que queiram citar.
O mestre não participa da roda, ele coordena, ensina, dando ritmo e puxando as músicas.
Mestre Pato ou Patinho
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